Bem vindo à terceira neuro.letter sobre empreendedorismo e comportamento!
Nas 2 últimas news foquei em dividir minha própria jornada empreendedora por aqui e de quebra venho trazendo alguns insights comportamentais pra te ajudar na suas escolhas por aí!
Eu decidi o tema dessa neuro.letter na segunda -feira depois de assistir a um vídeo que viralizou na internet sobre a participante Alane BBB: assista aqui
Ao ser anunciada como eliminada no último domingo, a participante Alane, que é bailarina criada pela mãe, começou a se bater ao vivo e passou a se auto insultar aos gritos: "eu sou péssima, eu sou ridícula".
Eu não sei você, mas eu fiquei em completo choque. Bateu forte em mim e fui espontaneamente às lágrimas com a cena. Uma análise superficial diria que "era um ataque de menina mimada que perdeu sua chance". Mas o buraco parecia ser mais embaixo.
Independentemente das causas que levaram a participante a esse rompante: é inegável que a cena nos remete ao poder destrutivo da autocobrança por sucesso, resultado e perfeição.
A Alane que mora em nós.
Era a década de 90. Eu estudava matemática para a prova, meus pais, com muito sacrifício pessoal, me colocaram na sexta série em uma das melhores escolas do Rio de Janeiro.
Eu sempre fui bem CDF e vestia essa carapuça (ou como vim estudar mais tarde: essa identidade ou estereótipo). Eu só me enxergava no mundo ocupando esse lugar.
Eu podia aceitar não ser a mais bonita, a mais atlética ou a mais popular (apesar de ter muitos amigos, é verdade). Mas abrir mão de ficar entre as melhores alunas da turma? Ahhh isso ninguém podia me tirar. Muito menos eu mesma.
Só que matemática nunca foi meu forte (crença, que aliás, definiu muitas escolhas na minha vida e retardou minha educação financeira até eu ter 35 anos). Então sempre que tinha essa prova eu sentia que tinha que me esforçar um pouco mais. Afinal, aquela matéria maldita poderia arruinar minha própria identidade, pois ela fazia eu me sentir burra.
Até que teve um dia que eu "dei uma de Alane" (por isso a cena me fez cair em prantos): eu não entendi algum exercício e simplesmente SURTEI. Eu devia ter uns 13 anos.
Eu joguei o meu caderno no chão, comecei a pisotear loucamente, amassei tudo, chorei muito, me sentindo a pessoa mais "péssima e ridícula (e burra)" do mundo. Sem ninguém para me ajudar a regular esse descontrole emocional, esperei o corpo acalmar, para silenciosamente desamassar folha por folha - afinal, a escola não iria adiar a prova por minha causa.
Hoje, tendo 2 filhos, tenho muita compaixão pela Carol de 13. Eu jamais permitiria que meu filho se sentisse assim (já passei por episódios muito parecidos por aqui).
Mas sabe o pior: a Carol de 13 anos - que se autocobrava pelas melhores notas - ainda mora aqui, aprisionada no corpo de uma mulher de 41 anos.
Quando a gente vira adulto, a gente pode até parar de jogar o caderno no chão ou de chorar em público em completo descontrole. Mas a voz interna não se cala.
A autocobrança pelo resultado dá as caras de outras maneiras e com outros rostos.
Quantas vezes eu pensei: "ah, mas seu eu fizer isso não serei orgulho pra fulana" ou "o ciclano deve achar isso ridículo" ou ainda "meu faturamento deveria estar bem maior para o tempo que dedico pra isso".
Quanta energia e criatividade eu perdi com isso? Muita…
Com o tempo descobri que as fulanas e fulanos, que eu pensava que me julgariam no projeto da neuroeconomia, eram, na verdade, a minha autocobrança com deep fake.
Que a cobrança por resultado financeiro rápido eram desatinos criados pelo meu cérebro, que escolheu modelos irreproduzíveis para seguir (como comentei na primeira neuro.letter desta série especial).
A minha autocobrança por:
ter mais títulos
assistir mais aulas
ter mais seguidores / alunos
fazer 6 em 7
vender todos os dias
ter ROI acima de 10
margem acima de 80%
conquistar a placa black
palestrar
escrever livro
ser admirada ….
quase me tirou desse jogo infinito chamado empreender. Ralei o joelho, mas aprendi que nunca estarei à altura do que a "Carol de 13" quer.
Eu precisei me reconciliar com ela recentemente e explicar que existem 2 coisas importantes chamadas: realidade e prioridades.
Nos últimos 5 meses iniciei esse novo processo: empreender no projeto que eu amo, ganhar um dinheiro bacana com isso e ter tempo pra sentir que a minha vida é boa.
Em troca, tive que abrir mão de um bocado de coisas da lista da autocobrança que relacionei acima.
Viver na era da romantização do empreendedorismo é difícil, pois desacelerar - ainda que em certos períodos - parece falta de garra, disciplina ou papinho de derrotado.
Mas preciso ser justa: a autocobrança me impulsionou. O problema é quando ela começa a te aprisionar.
Qual voz na sua cabeça tem te aprisionado? Se quiser, me conta no direct do insta (vou adorar saber).
Beijos
Carol Velloso