A culpa pelo gasto com supérfluo
como priorizar gastos e fazer o melhor uso - sem culpa - do dinheiro!
No último final de semana eu estava conversando com uma amiga sobre um curso de estilo que eu tinha comprado e como ele me ajudou a tirar 50% do que eu tinha no guarda-roupa.
Estávamos falando sobre como compramos coisas na promoção ou que estão na moda e que isso nos sobrecarrega de decisões e lota nosso guarda-roupa com coisas que nunca iremos usar.
Daí ela soltou a frase: “mas você era consumista”.
Engraçado que eu não me vejo assim.
Nunca me vi, na verdade (talvez quando estava emocionalmente abalada no meu primeiro emprego eu tenha, sim, descontado frustrações em lojas).
Daí fiquei pensando que possivelmente ela disse isso por eu gostar de comprar roupas. Eu sempre gostei de moda e de comprar roupas. Confesso: sentia aquela alegria que só um papel seda e um cheirinho de loja são capazes de dar.
Mas roupa é considerado supérfluo.
E na nossa relação torta com o dinheiro (talvez também por vivermos em um país tão desigual), gastar com supérfluo tem um quê de coisa errada (mesmo com todos os investimentos em dia).
É errado gastar com supérfluo?
Quando gastamos com supérfluo parece que tem sempre um fiscal – ainda que imaginário – para nos recriminar (quem nunca escondeu uma sacolinha de loja que atire a primeira pedra).
Pra piorar: quando eu comecei a me educar financeiramente eu consumia conteúdos que mandavam eu cortar tudo (especialmente os supérfluos).
Depois de muitos meses sem comprar roupa percebi que aquele tipo de gasto era importante pra mim, pois tinha relação com a minha qualidade de vida e identidade.
Para muita gente é fazer a unha no salão, ter dinheiro pra comer fora, gastar com viagens, comprar plantas ou decorar a casa.
Cada um tem algo supérfluo que faz seu coração palpitar. Porém, como gastar sem culpa e com consciência?
Eu adoto uma técnica que eu chamo de “pirâmide de Maslow pessoal”, que é muito famosa entre os alunos da Formação de Finanças Comportamentais (é impressionante como um exercício simples, mas que possui um enquadramento cirúrgico, pode trazer tanta clareza para profissionais de finanças e clientes).
Técnica Pirâmide de Maslow Pessoal
Pra quem não conhece, a pirâmide de Maslow foi difundida como uma pirâmide da hierarquia das necessidades humanas, com base em um estudo do Abraham Maslow em 1943 (no artigo intitulado “A teoria da Motivação Humana”).
Segundo a teoria da Maslow nós só sentimos a necessidade de satisfazer as necessidades humanas do próximo nível se tivermos satisfeitas as necessidades do nível anterior. Elas estariam divididas assim:
Nível 1: necessidades fisiológicas (respirar, comer, descansar, beber, dormir, sexo).
Nível 2: necessidades relacionadas à segurança (segurança do corpo, emprego, recursos de moralidade, família, saúde, propriedade).
Nível 3: necessidades relacionadas ao afeto (amizade, família, intimidade sexual).
Nível 4: necessidades relacionadas à estima (autoestima, confiança e conquista).
Nível 5: necessidades relacionadas à realização pessoal (moralidade, criatividade, espontaneidade, resolução de problemas, ausência de preconceito, aceitação dos fatos).
Só tem um probleminha: as pessoas têm necessidades diferentes e vivem contextos diversos.
Portanto, o que você deveria fazer agora é desenhar a SUA pirâmide de necessidades.
Comece colocando na base da pirâmide o que é mais importante e no ápice o que é menos importante (mas que você ainda assim gostaria de continuar consumindo).
Isso traz uma clareza imensa sobre para onde deveria estar indo nosso dinheiro (e muitas vezes estamos colocando mais dinheiro em coisas que ficam lá no ápice do que as que ficam na base da nossa pirâmide).
Depois compare essa pirâmide com suas faturas do cartão e planilha de orçamento doméstico.
A sua pirâmide vai ser seu guia sobre estar gastando bem seu dinheiro ou não, ou seja, se a sua fatura e orçamento abrange mais coisas que importam pra você na ordem de prioridade que você desenhou.
Se seus gastos estiverem de acordo com as suas prioridades: ótimo! Você está fazendo bom uso do seu dinheiro.
Se estiver algo trocado em ordem de prioridade: hora de repensar aquele gasto ou enxugá-lo.
Lembrando que isso vale também para quem precisa fazer cortes no orçamento: corte primeiro do que trará menos prejuízo emocional (comece pelo ápice da pirâmide e vai descendo até a base, nunca o contrário).
Recomendo, inclusive, que você coloque na pirâmide seus planos futuros, afinal é o boleto que você paga para o seu “eu do futuro”. Assim você entende qual a prioridade que você tem dado para gastos futuros e que dependam de esforço de poupança.
Investimentos em dia, dívidas controladas e gastos alinhados às suas prioridades: compre o que te faz feliz sem culpa e pare de alimentar tabus financeiros.
O supérfluo é o sal da vida, pois é onde reside nossa individualidade.
Obs: na próxima vez não esconda sua sacolinha no armário!
Beijo
Carol