Eu tentei fazer um vídeo sobre esse assunto, mas apaguei. É tão difícil falar de algo que pra mim teve tantas camadas que foi a decisão de empreender 100% a partir de março de 2025. Não sei se uma newsletter será capaz de falar sobre tudo (talvez eu fale em outras edições).
Mas esse texto é para aliviar a angústia de alguém como eu. A Carol que buscava ler textos e assistir vídeos dos corajosos que deram um salto de fé para buscar realização pessoal e profissional.
Eu vou começar pelo episódio que aconteceu há um ano atrás, durante uma reunião com a planejadora financeira que me dá apoio no planejamento da Neuroeconomia Educação (minha empresa). A gente estava discutindo sobre faturamento e pro labore ideal. Eu dizia que a meta era ganhar de Pro Labore mensal o mesmo salário que eu ganho como advogada de uma empresa pública. O valor é alto.
Então ela mudou sutilmente a pergunta: “O quanto você precisa receber de Pro Labore para pedir uma licença do seu atual trabalho?“ Eu comecei a chorar. Aos soluços. Ela tinha chegado no meu ponto de dor. A questão não era financeira, era 100% emocional.
Eu não sabia responder o valor, porque não se tratava de uma decisão puramente financeira. O buraco era muito mais embaixo. A minha terapeuta já tinha feito essa pergunta há anos atrás e eu tinha respondido: R$ 6 milhões (é sério). Por que eu não queria trocar o certo pelo duvidoso. Então só um valor capaz de me aposentar me faria trocar meu emprego seguro por empreender.
Em 2021 eu entendi o que o Neuroeconomia representava pra mim. A partir disso, comecei a projetar como seria incrível me dedicar 100% a esse projeto. Mas a princípio fazia isso em segredo, sem ousar falar disso em voz alta.
Mesmo exercendo uma profissão pela qual era apaixonada no início, eu nunca tinha me sentido profissionalmente tão realizada quanto eu me sinto no Neuroeconomia. Talvez porque nunca me senti tão livre e aceita. Nunca senti que as minhas maiores qualidades estavam alinhadas ao que eu fazia profissionalmente. Eu sempre precisei me conter no mundo corporativo. Espontânea e criativa demais. Eu sempre tinha que ficar autovigilante.
Uma vez lembro de ter que ler 20 contratos para fazer um relatório de uma operação de 1 bilhão de reais. Eu simplesmente olhei a pilha de pastas abaixei a cabeça incrédula e disse pra mim mesma: eu não vou aguentar passar 30 anos da minha vida fazendo isso. Alguma coisa em mim vai morrer se eu me resignar com esse destino.
Mas como me disse minha mãe uma vez (eu devia ter uns 15 anos): primeiro o trabalho e depois o hobby. Então, no início, coloquei o Neuroeconomia nesse lugar: do hobby, do puro prazer. Isso durou uns 2 anos.
Só que o hobby foi ganhando contornos mais fortes. Minha agenda vivia ocupada, o número de alunos saltou de 19 para mais de 2000, o faturamento começou a dobrar a cada ano e a visibilidade também. Um dia eu estava fazendo contratos burocráticos e no outro estava no programa Sem Censura, que assistia quando era criança com a minha mãe. Eu vivia duas vidas paralelas. Uma cheia de regras e hierarquias e outra cheia de pulsão de vida e criatividade.

Eu comecei a pensar seriamente em pedir uma licença do meu emprego há uns 2 anos. Mas largá-lo, ainda que temporariamente, era algo muito complicado pra mim. Era mexer em uma decisão que considerei como definitiva em 2014.
Eu achava que minha vida profissional estava resolvida quando passei em um concurso há mais de 10 anos. A carreira e condições de trabalho são incríveis. Convivo com pessoas extremamente inteligentes. Meu trabalho fica a 35 min de casa e acima de tudo: ele me dá previsibilidade. A segurança que conquistei com esse emprego se caracteriza como um benefício emocional de luxo.
Além disso, conquistá-lo foi árduo (incluindo vivenciar um episódio de depressão enquanto estudava). Só podia estar louca para voltar para o lugar da imprevisibilidade. Logo eu, que lido de forma péssima com isso.
Me apoiando na educação financeira tradicional, eu fiz o que qualquer um deveria fazer: criei uma reserva financeira capaz de pagar uns bons meses de custos para tentar uma transição de carreira. Achei, de forma ingênua, que com a reserva a coragem de decidir ia aparecer.
Só que quando a reserva foi montada (e olha que eu fiz uma reserva para 4 anos), eu simplesmente inventei outra coisa que eu precisava cumprir. E fui fazendo isso por meses. Quebrando promessas para mim mesma.
A verdade é que no fundo eu sentia que estava sendo ingrata por largar um emprego que a maioria se mataria para ter. Eu me sentia irresponsável com meus filhos, porque todo mundo ficaria sem plano de saúde. Eu me sentia em dívida com a minha mãe, que me criou pra ser uma concursada alto padrão e que brada orgulhosamente aos 4 ventos: “minha filha é advogada do BNDES“. Eu me sentia sozinha, porque no final das contas, eu teria que tomar essa decisão só, mesmo tendo apoio das pessoas próximas (isso também não foi o suficiente).
Para piorar tudo, muitas vezes as pessoas projetavam seus medos e crenças em mim (na melhor das intenções!) e isso reforçava o meu próprio medo. Isso me fez recuar muitas vezes quando eu estava a ponto de fazer a ruptura com a minha identidade de concursada para abraçar minha nova identidade de empreendedora.
Algumas pessoas que conviviam comigo achavam que era uma decisão relativamente fácil. Existia a possibilidade de tirar uma licença temporária para empreender e se tudo desse “errado” ou eu me arrependesse, eu poderia voltar para o meu ótimo emprego.
Mas se tomar decisões fosse fácil como se pensa, eu não estaria ensinando finanças comportamentais. Eu vivenciei na pele o quanto é emocionalmente dolorido algumas decisões. Elas precisam de um processo de maturação. Cada um tem seu tempo. Isso serve pra coisas complexas como separações, pedidos de demissão, venda da casa própria, mudança de estilo de vida, parar de pagar as contas dos pais dependentes financeiramente.
Teria sido mais fácil pra mim se eu tivesse exemplos de empreendedores na família. Teria sido mais fácil tomar a decisão se eu não tivesse que escolher (ativamente) empreender. Teria sido mais fácil se eu não tivesse 2 filhos pequenos e 40 anos. Teria sido mais fácil pra outra pessoa que não tem os MEUS OBSTÁCULOS COMPORTAMENTAIS e CONTEXTO. Duas coisas que são tão particulares quanto a nossa impressão digital.
Cada um de nós tem um (ou mais) calcanhar de aquiles. A decisão que o outro precisa tomar sempre parece simples, porque de fora não temos envolvimento emocional com a decisão e nem damos valor as mesmas coisas.
Aliás, eu dava muito valor à segurança financeira, porque não tinha nenhuma. Quando conquistei a segurança, eu comecei a dar valor a me sentir realizada. A gente muda os quereres e não tem nenhuma incoerência nisso. É característica de quem não se resigna com a vida. Como diria Lacan, só há desejo onde há ausência.
Aqui lembro um pouco daquela pirâmide de Maslow: a medida que vamos preenchendo necessidades mais básicas, vamos rumando à necessidade de autorrealização (o que já um privilégio per se, já que a maioria das pessoas está tentando sobreviver no meio da crise do custo de vida em que estamos).
Aliás, isso só reforçava a minha culpa de renegar o emprego dos sonhos de tantas pessoas. Mas não era o emprego dos meus sonhos.
E uma vez minha psicóloga, que não devia mais me aguentar falando desse assunto há 2 anos ininterruptos, falou: você tomou várias decisões com base no medo. Se você continuar no seu emprego, será mais uma decisão baseada nele.
Às vezes alguém precisa te dar um tapa na cara.
Mas não é só falar verdades, é falar do jeito certo, usando o que a gente chama em economia comportamental de enquadramento. A psi já tinha tentado tantas coisas antes e talvez ela nem saiba o impacto dessa frase que ela disse muitos meses antes da minha decisão. Eu ruminei isso por meses: sou medrosa. Pensar nisso me deixou infeliz. Eu não quero ser medrosa. Não com as coisas que importam.
E isso se tornou algo muito importante depois que fiz 40 anos. Eu já fiz tantas coisas que esperavam de mim. Mas o que eu quero construir daqui pra frente? Onde quero depositar minha energia?
Eu me senti como quem não aproveita a oportunidade, que poucos tem, de descobrir o que gosta de fazer (mesmo que aos 36 anos) e ainda ser bem remunerada por isso, e tudo isso por medo (de fracassar, de me arrepender, de perder dinheiro). O medo paralisante e confortável que só a inércia consegue oferecer: fica aqui, não gasta energia pra mudar tudo não…
Como então que me libertei dessa corrente que eu arrastava há dois anos?
Foi o tripé: nova narrativa + contexto favorável + pequenas provas.
Pois é. A reserva de emergência gorda foi insuficiente para tingir meu objetivo de fazer transição de carreira (para surpresa de ZERO pessoas que entendem de economia comportamental). O que me ajudou mesmo foi contar com meu próprio repertório de ciências comportamentais.
Pequenas Provas
Quando a gente tá caminhando para uma ruptura a gente passa por inseguranças terríveis. Uma voz interna parece um grande algoz e faz você temer o futuro. Então é preciso se agarrar ao concreto, mais do que nunca.
Existem sinais que mostram se você está se iludindo e apostando no vento (narrativa do medo) ou se a sua decisão tem fundamento (narrativa racional).
Essas provas vem de uma análise retrospectiva de dados objetivos:
faturamento é razoavelmente previsível e ascendente de um ano para o outro?
qual o feedback dos seus clientes/alunos?
você recebe muitas indicações/fideliza clientes?
você é crescentemente requisitada para projetos importantes ou interessantes?
você consegue reajustar e precificar de forma justa os seus serviços e ainda assim mantém o interesse dos clientes?
Como dei “check“ para a lista toda, pensava que estava sendo muito dura comigo, enquanto os dados diziam que estava tudo indo bem!
Claro que sei que o passado não necessariamente se repete no futuro. Mas quando o passado é consistente, é possível arriscar com mais segurança.
Nova Narrativa
Uma das coisas que mais me impediram a tomar a decisão antes foi como eu enquadrei o custo dessa decisão.
Eu comecei uma pira de que o Neuroeconomia deveria me pagar o mesmo que o meu emprego que estou há dez anos (um pouco injusto). Isso começou a me consumir.
Eu vi que se a narrativa fosse essa, eu emburacaria rápido. Então reenquadrei. Disse a mim mesma que era um sabático. Que eu teria tempo para fazer os cursos que queria, ter pequenas folgas com as crianças e viver uma rotina menos contada no relógio.
Se o faturamento se mantivesse no mesmo patamar, ótimo. O sabático se daria do mesmo jeito.
Essa história foi mais aceita pelo meu cérebro. Porque ela coloca o meu objetivo em algo menos ansiogênico do que faturamento. Mas isso só foi possível porque eu tenho uma boa reserva. Sem ela, a meta do faturamento teria que ser a principal, porque amor pelo que se faz não paga contas.
A transição precisa ter os 2 pés na realidade. Não adianta casar com o otimismo. É preciso contar com os revezes da vida. É que no meu caso, pensar nos revezes estava me paralisando, quando o resto já estava acertado. Lembra quando disse que os obstáculos precisam ser analisados por pessoa?
Não existe bala de prata para mudança de comportamento. É preciso uma ofensiva de estratégias comportamentais!
Contexto Favorável
Aqui se engana que contexto favorável é aquele confortável. Às vezes o contexto que te lança à mudança é justamente o desfavorável.
Lidar com 2 vidas paralelas sugou tudo ao meu redor.
Quando parei pra analisar perto do segundo semestre de 2024 percebi que só via com frequência minha família próxima (mãe, pai, filhos, marido) e amigos dos meus filhos. Não lembrava de comprar presente pra ninguém. Era a mãe que precisava da ajuda das outras mães da creche pra lembrar de mandar a foto pra creche fazer uma atividade. Não via filmes e nem lia livros, que não fossem sobre o que eu ensino. Estava gastando fábulas com roupas (meu termômetro de que alguma coisa não vai bem por dentro).
Uma coisa boba me ocorreu: nunca mais tinha sentado para tomar um vinho com a minha sogra e jogar conversa fora. Uma coisa tão simples. Isso porque eu “gastava“ esse dia dando aula. Só via a minha sogra nos aniversários (detalhe, ela mora no mesmo bairro que eu).
Tudo piorou quando voltei a trabalhar presencial. Agora não tinha mais controle do tempo. Minha vida passou a ser cronometrada entre bater o ponto, pegar filho na escola, colocar pra dormir, fazer um stories, criar uma aula…
Uma bela noite tive uma crise de ansiedade. Fiquei dias sem dormir. E não: não teve nenhum gatilho. Acho que foi meu corpo dizendo: basta. Essa vida, assim, não dá. Melhor te desligar. Porque enquanto você estiver ligada, você vai jorrar essa energia para alimentar seu medo e vai continuar a viver essa vida dupla.
Eu desliguei. No pior momento possível. Faltavam 2 meses para o evento presencial dos alunos no Rio. Eu tinha prometido o evento, não quis desmarcar. A equipe segurou a onda até eu me reorganizar emocionalmente (beijo Suzi e Dani!).
No evento foi como se um portal tivesse aberto.
A energia daquelas pessoas, que tinham vindo do Brasil todo, a cumplicidade, o carinho dos alunos e da comunidade que se formou me deixou em pleno êxtase. Eu pensei: como conseguimos criar isso? Isso é tão especial! Por que eu deveria temer? Eu poderia fazer muito mais se tivesse 100% dedicada a esse projeto!




E quando duas alunas disseram que tinham tomado a decisão de fazer uma transição de carreira de concursadas para trabalhar com educação e planejamento financeiro, dizendo o quanto a Formação foi importante para ajudá-las nessa decisão, eu chorei ali mesmo.
Cheguei em casa e pensei: como eu posso inspirar tantas pessoas e não conseguir tomar essa decisão?
Ali senti que eu devia ser fiel a mim e ousar ser corajosa. Deveria me dar a chance de apostar nos meus instintos. E pedi uma licença sem vencimentos por 2 anos. Agora é por minha conta e risco (mas com uma rede de proteção de poder voltar ao final).
Eu não sei se essa história vai te ajudar. Eu pulei muitos capítulos e fiz só um teaser dos meu últimos 6 anos. Mas eu queria te encorajar a ler os sinais.
Eles estão ao seu redor e podem te dizer se seus instintos estão funcionando ou apenas te ludibriando.
Eu quero uma vez na minha existência tomar uma decisão que eu QUERO e não uma decisão baseada no que eu preciso fazer. Dessas eu tenho um álbum completo.
Mas o meu “quero” certamente foi precedido pelo “preciso“. Sem os sacrifícios, sem a vida dupla, sem a reserva e muitos não ditos eu nunca conseguiria dizer SIM ao meu maior desejo atual: viver toda o potencial de um projeto autoral.
Para ser clara: a partir de 17/03 estarei 100% dedicada ao Neuroeconomia. E estou muito feliz de ter sido corajosa (mesmo tendo levado 2 anos)!!
Até a próxima :)
Formação!
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Obrigada pela companhia, Eli! Com certeza a força de pessoas que me acompanham, dos alunos, leitores foi essencial para esse voto de confiança ❤️
Carol, linda decisão e tenho certeza que te trará muita felicidade. Já passei por esse sofrimento e fiz essa transição quando minha filha tinha 5 anos. Na época foi muito doloroso “perder uma identidade”, mas ganhei outra. Mais livre, mais alinhada com o que era possível para aquele momento. Não somos máquinas e temos nossos limites, nossos desejos, nossos sonhos! Que seus olhos brilhem ainda mais! Que seu empreendimento de educação financeira consiga ajudar muitas pessoas! Você me ajudou muito quando fui uma de suas primeiras clientes, no pior momento financeiro que eu vivia. Você conseguiu me colocar com o pé na realidade e organizar o que eu podia para aquele momento! Que o Neuroeconomia prospere ainda mais! Que a Carol seja mais feliz e realizada! É isso, as vezes só precisamos de coragem 🩵