Biscoito da sorte
diante do ano novo e das incertezas: buscamos as nossas verdades em qualquer lugar
Aniversário sempre foi meu calcanhar de aquiles com dinheiro (junto com roupas).
Eu era daquelas que já avisava a data com antecedência, contratava garçom, comida, barril de chopp, espumante à vontade, música ao vivo. É verdade que minha mãe fazia o banquete, mas eu entrava com todo resto. Comprava pra sobrar. Aniversário é dia de fartura!
Herdei essa crença da minha mãe: ela sempre fez questão de fazer festa de aniversário para todas as filhas. E fomos criadas para valorizar aniversários e celebrar com festa!
Depois que eu virei mãe eu passei a ser mais comedida nas comemorações.
Primeiro porque um filho muito pequeno traz algumas restrições (pelo menos pra mim foi assim). Segundo que passei a ser mais racional com o uso do dinheiro. Comecei a avaliar o custo de oportunidade de uma grande festa todo ano: o que eu poderia fazer com essa quantia de dinheiro ?
Pra mim era simples: eu não tinha dívidas, não gastava tudo que eu ganhava e ainda tinha o décimo terceiro para dar aquela ajudinha: opaaa, a festa de arromba todo ano tá liberada!
Mas a verdade é que eu também nunca pensei muitos anos a frente. Nunca pensei nas coisas “grandes” que eu queria (tirando a casa própria, né neuros. Porque esse sonho todo brasileiro tem assim que tira o CPF).
Antes de 2018 eu nunca tinha me planejado. Meu dinheiro dava para os "sims" do presente. Mas dava para as conquistas do futuro?
Desejos são ilimitados. Dinheiro não.
Quando me dei conta disso bateu um arrependimento de não ter poupado mais antes de ter filho (eram escolhas menos difíceis pra fazer). De não ter investido desde o meu primeiro salário. Hoje poderia ser mais independente financeiramente (apesar de já ter conseguido correr atrás do prejuízo nos últimos 6 anos).
Mas e tudo que vivi, não conta como investimento? Todas as viagens, restaurantes, festas?
Ahhhh, a eterna batalha entre presente e futuro.
Se tem algo difícil de lidar é isso. Por mais focados que a gente esteja basta alguém próximo mais “vida loka” viajar para aquele destino que você sempre quis pra fazer você repensar se essa história de continuar poupando vale mesmo a pena.
Não se sinta só: é difícil manter objetivos de longo prazo. É contraintuitivo para o cérebro.
Para garantir motivação é preciso um plano que conte com a dopamina, neurotransmissor essencial para a motivação.
Então vamos de receita pra motivação:
- Uma xícara de metas de curto prazo
- Uma colher de celebração das pequenas vitórias
- Uma pitada de novidades na sua semana (pode ser ouvir uma música nova, testar uma nova receita, planejar uma viagem, aprender uma nova língua em um aplicativo).
Com a motivação em dia fica mais fácil de caminhar rumo a uma grande meta! Então passei a fazer um novo ritual no meu aniversário: uma carta para Carol do futuro. Mas não um futuro muito longe. Uma carta para eu abrir daqui a 1 ano.
Você pode ser mais old school e escrever à mão (já cansei de fazer assim). Mas depois passei a usar o future.me. Você escreve uma carta digital e recebe ela por e-mail dentro do prazo que você determinou. Eu escolho 1 ano. Esse é um trechinho da minha última carta (escrita em 2023 por mim para Carol do futuro):
Fui otimista em algumas coisas (cadê o livro publicado???!!!). Mas ultrapassei outras. Ao fazer uma retrospectiva deste ano vi que tinha muitos motivos para comemorar. Tantos motivos que tomei uma decisão que não conseguia tomar por muitos anos (mas isso é assunto para outra news).
Pensar no que eu realmente gostaria de viver e conquistar me ajuda a colocar tudo isso na zona do possível. E a partir disso, começo a entender o que preciso fazer, mas mais importante do que o que fazer: quais serão meus obstáculos (especialmente os comportamentais).
Mapeado os obstáculos: aí sim tô pronta pra traçar uma estratégia eficiente. Aqui a gente faz o que a gente ensina!!
Eu escolho meu aniversário para essas revisões sobre a vida porque pra mim é quando começa um novo ciclo. É uma época de balanço e de planejamento financeiro. Além disso, posso contar com o efeito fresh start (ou efeito recomeço), que segundo a Katy Milkman dá uma uma forcinha na nossa motivação para mudar hábitos.
Por fim, esse aniversário teve algo de mis especial. Eu de fato entrei em uma fase de vida de querer deixar de fazer o que não faz mais sentido. Pensei: já dei tantos “checks" para os outros. É o meu momento. E uma amiga querida, sem saber desses meus pensamentos, me mandou esta mensagem:
Eu não entendi nada. Mas ela explicou em seguida:
E fui eu googlar o que era essa teoria dos setênios: A Teoria dos Setênios é uma teoria que divide a vida humana em ciclos de sete anos, cada um com características e desafios específicos. A teoria sugere que a cada sete anos, a pessoa passa por uma renovação interna, enfrenta novos desafios e aprende lições importantes.
A teoria dos setênios pode ser dividida em três grandes fases:
De 0 a 21 anos: Fase do desenvolvimento físico e da formação da personalidade
De 21 a 42 anos: Fase das escolhas, em que a pessoa começa a tomar suas próprias decisões
A partir dos 42 anos: Fase da maturidade, em que a pessoa aprende com as suas escolhas e incorpora a espiritualidade
E olha a bela surpresa: estou na fase imaginativa!
Que alegria!!!
Era o viés de confirmação que faltava para eu me sentir tranquila com as últimas decisões tomadas. No fundo, quando estamos diante da incerteza e de decisões difíceis: recorremos ao que confirma nossas crenças interiores.
Pode ser uma cena de filme, uma letra de música, um mapa astral ou uma mensagem do biscoito da sorte.
É bom acreditar em algo acima da nossa compreensão. Tem uma certa magia e sensação de que tá na mão do destino (e um pouco de desrresponsabilização que alivia).
No fundo não podemos controlar nosso futuro (estou meio talebiana nessa news), mas planejar é importante para diminuir a margem de erro.
Feliz novo ciclo pra mim e pra você!
Até a próxima neuro.letter.
Carol