Como manter resoluções de ano novo?
Uma ajudinha das ciências comportamentais para começar com o pé direito!
Como diz a velha canção: "adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer... muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!"
Você pode até ser pessimista, mas é difícil não ser contagiado pela onda de otimismo que nos invade toda virada de ano: "2025 vai ser diferente!".
Nós não falamos da boca pra fora: nós realmente acreditamos que temos um ano novinho em folha à nossa disposição para ser nossa melhor versão (seja financeira, estética ou intelectual).
Mas vamos ser francos: nossa lista de metas para 2025 provavelmente é quase um copia e cola dos anos anteriores: ganhar mais, aprender a investir, ler todos os livros que comprei e ser mais saudável estão sempre no topo das nossas listas de desejos.
Por que será que somos invadidos por esse otimismo em janeiro, mas a cada final de ano voltamos a torcer pro ano acabar logo, cansados e frustrados porque não deu pra atingir as metas traçadas?
EFEITO DO RECOMEÇO OU FRESH START
O efeito do novo começo (fresh start effect) é um efeito psicológico que vivenciamos quando estamos diante de novos ciclos temporais como, por exemplo:
ano novo
segunda-feira
aniversário
mudanças (de cidade, de emprego, de estação do ano etc)
Esses marcos fazem com que as pessoas se sintam motivadas a perseguir novos objetivos e a deixar no passado as suas falhas.
Afinal, a eu do futuro é sarada, rica, empreendedora de sucesso, tem tempo pra ler, comer saudável e se exercitar pelo menos 5 vezes por semana.
É justamente por esse motivo que listas de metas são tão populares no ano novo e igualmente porque a maioria das dietas começa na segunda-feira. Fazemos uma espécie de contabilidade mental com o tempo.
Nada contra fazer listas audaciosas e sonhar com o que se quer conquistar.
Inclusive sou a favor que as pessoas comprem um (um!) bilhete da mega da virada e se permita sonhar com tudo que poderia fazer, pois secretar hormônios do bem estar ainda é de graça.
Mas como as chances de ganhar na loteria são baixas, é melhor contar com um plano B pra tirar as metas (especialmente as metas financeiras) do papel.
ANO NOVO, PROBLEMA ANTIGO: LIDAR COM LONGO PRAZO
Na hora de listar nossos objetivos a gente sabe que o papel aceita tudo. O diabo mora mesmo é nos detalhes. É o dia a dia e as inúmeras distrações que corroem nossa motivação quando estamos trabalhando para atingir nossas metas.
Isso fica claro quando olhamos para o tema aposentadoria: se aposentar bebendo Mojitos nas Bahamas todo mundo quer, mas poupar o suficiente todo mês pra gozar disso daqui a 30 anos poucos fazem.
Pra você ter noção desse dado na ponta do lápis: segundo o Raio-X da Anbima de 2023 os brasileiros querem se aposentar até 59 anos, mas 23% não começou e nem pretende começar a poupar pra esse objetivo. De outro lado, 58% pretende sim poupar, mas ainda não começou… ahhh, o otimismo sempre mostrando as caras quando estamos falando de longo prazo!!
Metas de longo prazo são sempre desafiadoras, porque são nosso calcanhar de Aquiles. Nós fomos programados para ceder às gratificações imediatas: financiar o que não podemos comprar agora, comprinhas por impulso, pizzas quentinhas no lugar da salada sem graça, viagens com amigos no lugar de poupar para aposentadoria. Afinal, só se vive uma vez!
Não dá pra só se deixar levar pelo inconsequente Sistema 1 de tomada de decisão.
Então como fazer para lidar com um cérebro sabotador e não desistir das nossas próprias metas financeiras em março?
Como manter a motivação?
Primeiro: tente ser mais específico em relação a sua meta.
Faturar 500 mil em 2025 não é específico o suficiente e gera pouco comprometimento, mas faturar 500 mil em 2025 e ter um plano de ação de vendas mensal junto da meta sim. A mesma lógica serve para quem quer investir mensalmente uma quantia para aumentar o patrimônio.
Use o exercício intenção de implementação: decida previamente o que, quando e onde será feita a atividade necessária para atingir sua meta, diminuindo sobrecarga de escolhas e gerando um comprometimento prévio com a tarefa.
Exemplo: todo dia 10 de cada mês, até 12:00, eu irei investir R$ 500,00 no ativo "X" por meio do aplicativo do banco/corretora.
Quando deixamos para decidir todo mês quanto e onde investir nosso dinheiro podemos passar por uma fatiga decisória, o que muitas vezes nos leva a uma inação.
Conheço muitas pessoas que deixam dinheiro na conta corrente por não conseguirem tomar uma decisão de investimento. Com medo de se arrepender do que escolheram fazem uma escolha ainda pior: não escolhem nada!
A mesma coisa acontece com empreendedores e autônomos: tem a meta de aumentar o faturamento, mas não tem um plano de ação com ações de vendas, quantidade de clientes prospectados por mês, meios de aquisição de novos clientes, tempo dedicado a comunicação dos serviços e métrica desses dados coletados.
Sem a saliência desses dados não conseguimos medir nossos avanços e tudo que os olhos não veem, o cérebro não sente!
Segundo, durante a execução de tarefas chatas, mas necessárias: inclua um fator externo positivo.
Pesquisadores da Universidade de Chicago conseguiram aumentar a atividade dos alunos na sala de aula quando acrescentavam lanches ou música durante as atividades. Nosso cérebro é associativo e gosta de estímulos positivos.
Então se cuidar do próprio dinheiro ou faturamento parece entediante: como você pode associar essa rotina a algo mais prazeroso? Seja criativo, use músicas, velas ou papelaria divertida.
Uma vez uma aluna disse que discutia o planejamento financeiro do casal durante um agradável almoço com o marido que fazia toda última quinta-feira do mês. Achei delicioso esse exemplo, pois ela conseguiu criar um ambiente agradável para falar de um assunto considerado pesado. Ou seja, falar de finanças passou a ser uma rotina prazerosa na família.
Por último: celebre pequenas vitórias.
Atingir metas de curto prazo é o melhor combustível para metas de longo prazo. É forma de usar o mecanismo dopaminérgico a nosso favor. Nosso cérebro reage às recompensas, então dê recompensas a ele.
Aproveito pra deixar registrado meu objetivo de 2025: publicar meu primeiro livro físico para mostrar que dinheiro não é sobre números, mas sobre comportamento.
Até ano que vem!
Carol