Eu adoro ler artigos científicos e assistir filmes cabeças…mas sabe um gênero que eu amo: filmes que abordam o tal "efeito borboleta", que falam sobre viajar no tempo, sabe?
Eu simplesmente amo filmes e séries que abordam a correlação: escolhas passadas x futuro.
Por isso tive a grata surpresa de achar a série, super leve, "E se eu soubesse" na Netflix. Não espere muito da série. Ela é pra diversão, bem previsível. Ótima como acompanhamento de um almoço solitário em home office.
Pra variar: preciso contar uns spoilers (mas ele está no trailler da série, vai!).
A protagonista engravidou na faculdade e optou por parar de estudar para se dedicar a ser mãe. Corta pra 8 anos depois. Ela está infeliz no casamento e tem 2 filhos pré adolescentes que não dão muita bola pra ela. Nessa crise de identidade ela passa pela experiência de viagem ao passado.
E ela volta ao dia em que disse "sim" ao marido. Dessa vez ela tem a chance de dizer "não" para aquele homem e mudar todas as suas escolhas subsequentes para garantir um futuro mais feliz do que aquele que ela vive.
Só tem uma coisa: sem aquele marido, os filhos que ela conhece não poderiam nascer. E ela vive o dilema de ter focado no sucesso profissional e ter amado outro homem e outros filhos.
Sabendo as consequências dessa troca: o que você faria?
Com a vida financeira já estive nesse lugar. Como descobri a educação financeira aos 35 anos, sempre penso que minha vida teria sido muito mais fácil se eu fizesse tudo que faço hoje desde os meus 22 anos.
Já teria muito mais dinheiro poupado para aposentadoria. Já teria condições de ter a casa dos sonhos. Poderia me dar mais "luxos”. Teria o dinheiro da faculdade das crianças. Isso tudo poupando menos do que preciso poupar hoje, tendo que recuperar o tempo perdido.
Mas assim como na série: qual o preço que eu teria que pagar para aos 40 anos estar com "a vida ganha"?
No meu caso: abrir mão de ter vivido tudo que eu vivi.
Teria viajado bem menos. Não teria tido uma festa de casamento na praia. Não teria andado de balão na Capadócia às 5 da manhã. Não teria ido estudar italiano em Roma por 1 mês (pra tentar curar uma depressão). Não teria feito tantas festas de aniversário. Certamente teria tido apenas 1 filho (ou nenhum).
Será que se eu tivesse colocado o futuro sempre em primeiro lugar eu estaria mais feliz hoje, já que conseguiria realizar os sonhos da Carol aos 40?
Essa é uma questão que nunca pensamos: o quanto nossos objetivos mudam a medida que amadurecemos. A Carol de 20 queria conhecer o mundo. A Carol de 40 quer segurança e tempo livre pra ler um livro. Como convencer a Carol de 20 que a Carol de 40, 50 60 anos vai ter outras necessidades? O tempo que mais importa sempre será o HOJE.
Aliás, existe até um movimento para alcançar a independência financeira e se aposentar cedo: FIRE (Financially Independent, Retire Early). No site do SERASA achei essa descrição:
"As principais ferramentas usadas para alcançar esse objetivo são: ganhar mais e acumular dinheiro, investir em ativos seguros e com boa rentabilidade, e diminuir o padrão de vida para que ele caiba em um orçamento modesto. Uma vez que o capital foi acumulado adequadamente, o orçamento pode ser reduzido, permitindo sair do padrão de vida tradicional. Além disso, as pessoas podem fazer escolhas inteligentes para reduzir custos. Por exemplo, podem se mudar para casas menores e mais baratas, encontrar fontes de renda passiva, reduzir o consumo de luxo ou encontrar maneiras de economizar com alimentos e outras despesas. "
Parece bom. Será que teria valido a pena trocar algumas das estripulias que fiz aos 20 e 30 anos para me sentir mais segura financeiramente e poder realizar sonhos muito maiores agora?
Nunca saberei. Afinal, o efeito borboleta não existe na vida real.
Escolhas intertemporais são difíceis, já que, em alguma medida, são saltos de fé. A gente nunca sabe como teria sido se tivesse escolhido diferente.
Só queria lembrar que a disputa aqui é injusta.
O cérebro está inclinado a te influenciar a priorizar o presente. Por isso poupar pro futuro sempre vai parecer a pior escolha.
É preciso uma dose de (auto)conhecimento para entender que seu cérebro te joga cascas de banana quando o assunto é dinheiro. Nem sempre dizer "sim" pra tudo traz um final feliz. Certamente não traz um futuro confortável e seguro, na maioria das vezes.
O arrependimento não pode te paralisar a buscar a melhor decisão do momento. Mas saber o que você está arriscando do seu futuro precisa estar na mesa.
E você: se pudesse voltar no tempo e mudar 1 coisa ou situação em relação ao seu dinheiro, você mudaria algo?
Até a próxima neuro.letter.
beijos,
Carol
Adorei o texto! Eu conheci o movimento FIRE bem nova, mas já “o seguia” antes de saber de sua existência formalmente. Também fiz concurso (provavelmente sua vizinha de prédio). Hoje, aos 38 anos, acho que as renúncias do passado valeram mt a pena. E não acho q deixei de viver, nem de perto (um privilégio de quem tinha conforto financeiro, claro). O que é viver bem afinal? Um papo filosófico sem resposta! Amo que falar sobre dinheiro é falar sobre a vida. A matemática existe, mas é coadjuvante nesse processo de lidar com as nossas finanças. Bjs!