Eu não sou uma expert em IA. Eu não leio sobre o assunto. Eu passo a maior parte do meu tempo mergulhada em ler sobre comportamento humano (e recentemente, voltei meus olhos para literatura!).
Então, esta news é de uma empreendedora e não de uma expert! Mas preciso dizer: aonde quer que eu vá o assunto é esse.
Começou há 2 anos atrás, quando fui ao Hotmart Fire e o convidado ilustre da vez era o Gary Vee. Para quem não conhece, o Gary Vee (considerado por alguns como o “pai do marketing digital"):
é um empreendedor norte-americano, quatro vezes escolhido melhor autor de best-sellers reconhecidos pelo New York Times, palestrante e personalidade na internet internacionalmente reconhecido. Inicialmente conhecido como um famoso crítico de vinhos que fez com que a vinícola de sua família aumentasse seus lucros de $3 milhões para $60 milhões, Vaynerchuk é mais conhecido como um pioneiro do marketing digital e de redes sociais nas empresas nova-iorquinas VaynerMedia e VaynerX.[7][8]
Vaynerchuk é investidor anjo ou consultor da Uber, Birchbox, Snapchat, Facebook, Twitter e Tumblr, entre outras. Ele frequentemente realiza palestras em congressos de tecnologia e empreendedorismo global.
Ele é um grande ator no mundo de mídias digitais e certamente senta nas mesas que sabem as tendências dos próximos anos.
Pois bem. Em 2023, ele tava lá palestrando no palco principal dizendo que a inteligência artificial ia mudar as nossas vidas no espaço de 5 anos a no máximo 10 anos e que essa revolução seria ainda maior do que aquela provocada pelo acesso à internet.
Eu que não sou muito afeita a cavaleiros do apocalipse, fiquei atenta, mas voltei para normalidade. É verdade que na época eu flertei em contratar uma consultoria de IA, cheguei a cotar (oi, FOMO!). Mas as prioridades eram outras e deixei o projeto na gaveta. Eu também não tinha letramento em IA para decidir qual consultoria valia a pena contratar. Seria uma contratação por empolgação e gritaria (pense em quanto dinheiro o empreendedor não gasta pra surfar o hype ou não ficar para trás?!).
Passados 2 anos, fui em um evento de empreendedorismo que usa canais digitais para aquisição de novos clientes. E eu nunca fui tão bombardeada de palestra que envolvia direta ou indiretamente IA. Pessoas que já usam e que otimizaram e automatizaram processos de forma absurda.
Aliás, eu testemunhei em tempo real 2 empreendedoras conversando sobre demitir uma colaboradora porque a IA, infelizmente, tava fazendo o trabalho dela mais rápido e melhor (e a colaboradora era boa, mas não conseguia bater a velocidade da IA). E olha que eram pessoas “humanas" que não pensam só em lucro e números.
Mas se até elas estavam reavaliando o jeito de fazer as coisas: ficou bem claro pra mim para onde o trem está rumando.
Mais uma vez vamos passar por uma revolução de automatização e quem só tiver o básico talvez fique obsoleto em alguns anos. Isso fica ainda mais evidente quando estamos falando de prestação de serviços para empresas, já que um dos objetivos da empresa é justamente aumentar a margem de lucro, sendo que uma das formas de atingir esse objetivo é diminuindo custos operacionais, folha e aumentando a produtividade.
Eu sempre penso tudo isso pelo viés comportamental: o ser humano sempre vai optar pelo jeito mais rápido e fácil de fazer as coisas, ainda que o uso de IA possa ter consequências negativas (futuras) para o meio ambiente, criatividade, direitos autorais, pensamento crítico. A gente já sabe de comportamento o suficiente para entender a equação:
tarefa mais fácil + recompensa imediata = ação*
*especialmente se a consequência negativa, caso haja, estiver no futuro!
Então, IA não é uma nova onda, como foi a NFT. Ela veio pra ficar, porque ela facilita muito a vida das pessoas. Ela economiza nossos escassos recursos, como tempo, energia e inteligência. Não tem como escapar da IA.
Eu mesma usei a IA para processos criativos, elaboração de materiais que eu levava MESES para arrumar tempo pra sentar e fazer. Me ajudou a construir palestras, aulas e muita coisa muito mais rápido (eu uso pra me ajudar a esquematizar, JAMAIS para me substituir, é bom dizer!).
E eu obviamente simulei um planejamento financeiro via IA, inclusive da minha empresa.
E olha, preciso ser sincera: ficou muito bom. As informações vem totalmente organizadas em menos de 1 minuto. Basta fazer upload de documentos, escrever uma coisa ou outra sobre a empresa e as métricas que eu preciso avaliar e voilà: seu planejamento financeiro personalizado está na palma da mão.
Será?
Por partes.
Primeiro, eu pedi para o chatgpt organizar meus números e métricas. E nisso a IA é imbatível. O trabalho que um ser humano demoraria um dia pra fazer, a IA faz em minutos.
Se você é um profissional de finanças, ao invés de bater o desespero: "vou perder meu emprego pra IA", você deveria agradecer de que agora parte do seu trabalho é mil vezes mais rápida. Você tem que lembrar que a IA é assertiva e rápida, sim, mas que é preciso letramento financeiro para manejá-la. Lembre-se que o nível médio de letramento financeiro no Brasil é de 59/100.
Então, para nós que sabemos o que perguntar para a IA: o planejamento fica muito mais fácil de fazer. E isso abre um espaço enorme na sua agenda para focar no principal: como você vai fazer seu cliente pegar o planejamento e TIRAR ELE DO PAPEL (ou da planilha).
“De uma maneira geral, o brasileiro afirma que pensa mais em guardar dinheiro do que em gastá-lo no presente. No entanto, o número de pessoas que preferem satisfazer desejos imediatos a pensar futuro ainda é bastante elevado” - Juliana Haruko Horita - Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central
A IA é muito boa de mimetizar um ser humano, especialmente quando estamos falando de atividades mais mecânicas e analíticas, porque ela é capaz de ver padrões na velocidade da luz.
E não vou mentir: ela foi capaz de identificar até mesmo questões comportamentais. Mas até a página 2.
Quando se trata de obstáculos psicológicos a IA também usa heurísticas para julgar. Ela parte de generalizações para arrumar soluções (genéricas) de como superar dificuldades para poupar, investir etc.
Eu gosto de fazer uma analogia com os nutricionistas.
Imagina que agora que você pode usar a IA para fazer um cardápio personalizado de acordo com seu peso, IMC, objetivo, idade, gênero e preferências alimentares. Fui lá e fiz (e ficou bom):
Hoje eu pago R$ 500,00 para uma consulta com a minha nutri. Com as orientações eu poderia substitui-la e economizar essa grana?
Depende do que ela oferece na consulta e do meu grau de consciência (como cliente) dos meus verdadeiros problemas em manter uma alimentação saudável.
Se é um profissional que faz o tradicional: me pesa, revisa meu cardápio, calcula o IMC, passa vitaminas. Eu facilmente chego a conclusão de que posso trocar a nutri pela IA.
Ou de outro lado, se estamos diante de um cliente com baixa consciência sobre a raiz do problema alimentar = ele também acredita que basta o que a IA oferece para trocar um profissional pelos comandos do chatgpt.
Trazendo para o mundo das finanças:
O profissional que pega os números e entrega um plano com base nisso pode ser substituído por um clique.
O cliente que acha que resolve a vida baixando uma planilha grátis na internet = também vai achar que a IA vai resolver ainda mais rápido o problema dele.
Mas o principal problema vai continuar existindo: seres humanos vão continuar FALHOS em objetivos de longo prazo. É o nosso defeito de fábrica que chip nenhum foi capaz de resolver.

Para seguir à risca o que o chatgpt vai comandar: ainda teremos que nos manter motivados, lidar com emoções, crises, mudanças de contexto, escassez de recursos, pressão social e tantos outros obstáculos comportamentais. E a pessoa precisa ter letramento em ciências comportamentais para identificar qual o obstáculo DA VEZ. Feeling é bom, mas não é assertivo. E feeling bom é aquele treinado com conhecimento e experiência.
Nesse novo mundo: quem não vai ser trocado?
Segundo a US Career Institute, os trabalhos mais seguros da IA e automação são aqueles que exigem qualidades humanas que um robô não pode replicar, como: habilidades sociais, inteligência emocional e relacionamentos interpessoais.
Áreas que são mais criativas e não seguem uma rotina rígida também têm menor risco de serem substituídas pela IA. Eles elencam os trabalhos menos propensos a serem afetados pela automação:
Saúde: Enfermeiros, médicos, terapeutas e conselheiros
Educação: Professores, instrutores e administradores escolares
Criativo: Músicos, artistas, escritores e jornalistas
Serviços Pessoais: Cabeleireiros, cosmetologistas, personal trainers e treinadores
Ou seja:
o profissional que consegue hiperpersonalizar um serviço (e se antes isso tomava tempo, agora vai ficar mais fácil e rápido com a ajuda da IA, desde que você tenha letramento em comportamento e IA)
profissionais que tem habilidades como: criatividade, pensamento crítico, neurociência
o profissional que oferece benefícios emocionais (e não só objetivos)
o profissional que sabe ler as entrelinhas do cliente (nem sempre o cliente sabe qual é a pedra no sapato dele, mas um profissional com letramento em comportamento humano sabe facilmente identificar isso!)
o profissional que tem uma comunicação que atrai (a gente ainda é ser humano e ainda busca conexão quando compra de alguém. Quem vende commodity tá lascado no médio prazo)
quem souber criar experiências positivas e não só entregar informação
quem souber usar a IA a seu favor!!!
Infelizmente, seu cliente não precisa que você tenha mais uma certificação (apesar de elas serem importantes para nós, profissionais, pois atestam nossa proficiência). O que ele realmente precisa é que você saiba lidar com ele.
Não é pra ficar sem dormir com o avanço da IA: é pra ficar atenta para quais habilidades precisam do seu foco para se manter atualizado aos novos tempos!
Faça essa reflexão e coloque seu foco nisso nos próximos meses.
Até a próxima ;)
Carol