O mundo está acabando?
Como o bombardeio de notícias negativas impactam nossas decisões financeiras
2025 tem sido um ano árido.
Noticiários e redes sociais estão veiculando nos últimos meses de forma avassaladora sobre temas como:
desafios da economia global com a alta do dólar, inflação de alimentos e tensões comerciais
como a Inteligência Artificial vai roubar empregos, nos deixar pra trás, acabar com a nossa cognição e criatividade (além de gerar impactos ambientais)
Terceira Guerra Mundial batendo na porta
desastres climáticos mundo a fora
Começamos a ver recorrentemente o termo mundo policrise (apesar de o termo não ser novo), para descrever o que estamos vivendo: ameaças de todos os lados.
“Se você tem se sentido confuso e como se tudo estivesse te impactando ao mesmo tempo, esta não é uma experiência pessoal e privada. “Na verdade, é uma experiência coletiva.” - Adam Tooze, professor de História na Universidade de Columbia, em Nova York.

Resumindo bem: são muitas ameaças, crises geopolíticas, financeiras e de saúde mental. A impressão que dá é que o mundo está acabando. E aqui preciso destrinchar isso sob o viés da economia comportamental e psicologia social.
Nós somos incapazes de processar tudo que está acontecendo de forma racional, seja por falta de tempo, de memória ou até mesmo de inteligência (não somos expert em política, finanças, economia, saúde mental e por aí vai).
Dito isso, não é possível averiguar cada fato - e distingui-lo de narrativas - para saber se de fato o mundo está acabando. Nem mesmo a fonte das informações a gente tem tempo de checar (seja honesto!).
O que nos resta é nos entregar aos nossos atalhos mentais e acreditar no que parece verossímil, no que parece fazer sentido, no que parece ser veiculado por alguém sério e que sabe do que está falando. É o máximo que seu cérebro consegue fazer (pouco).
Além disso, temos que lidar com a nossa tendência (leia-se, viés cognitivo) de focar no que é mais negativo, já que isso é uma forma que o cérebro tem de nos deixar atentos ao perigo (seja ele real ou não) para agir (ou apenas fugir).
Qual a problemática aqui quando o assunto é “impacto na tomada de decisão": o consumo em looping de notícias negativas.
Sim, é preciso noticiar. Mas o bombardeamento excessivo de notícias e a difusão da opinião de especialistas para analisar cada detalhe, chama mais atenção, rende mais likes, engajamento e DINHEIRO. É só pensar em qualquer catástrofe para perceber o quanto elas são exploradas nas mídias.
Daniel Kahneman chamaria isso de cascata de disponibilidade e diria que ela cria uma ilusão sobre os reais riscos aos quais estamos sujeitos.
O consumo de notícias ruins faz com que a gente foque desproporcionalmente nos acontecimentos negativos (que muitas vezes estão fora do nosso controle), fazendo com que a mensuração do impacto dos acontecimentos em nossas vidas também seja desproporcional.
É possível que alguém que more em Minas Gerais sinta medo de Tsunami de tanto assistir notícias sobre esse tipo de desastre, por mais desarrazoado que seja.
E aqui há 2 tipos de pessoas (simplificando muito):
aquelas que consomem notícias em um looping dopaminérgico e se rendem ao pânico. E assim, com base no MEDO tomam muitas decisões irrazoáveis (incluindo PARALISAR)
aquelas que se fecham e decidem parar de ler notícias negativas, por temer a deterioração ainda maior da saúde mental, tão frágil em tempos velozes.
Outro dia li que as pessoas do segundo tipo estariam hipernormalizando tragédias e o caos. Não concordo.
Acredito que as pessoas só estão adotando estratégias de autopreservação (nesse caso, psíquica) para continuarem minimamente funcionais, se agarrando a um fio de otimismo de que existirá o amanhã.
Não há mente que aguente um mundo policrise.
Nossos antepassados, que tem o cérebro muito parecido com o nosso, estavam usando os mesmos recursos cognitivos para decidir lutar ou fugir de um tigre, onde se abrigar e que horas se reproduzir. Todas decisões de curto prazo.
Nós temos os mesmos recursos e temos que lidar com poli ameaças de curto, médio e longo prazo. É tanto estímulo que a mente se adoece. Quem paga essa conta?
Suas decisões. Elas ficam de pior qualidade, curto prazistas e mais impulsivas.
Mas queria lembrar que fazemos a mesma coisa em tempos de EUFORIA e bonança.
Também nos aconselhamos com atalhos mentais e tomamos decisões desarrazoadas e muito mais arriscadas do que tomaríamos em tempos de crise.
A verdade é que somos PRISIONEIROS da mente enquanto não entendermos como ela funciona. Ficamos reféns de emoções e tomamos decisões de pior qualidade.
Na dúvida, fico com uma frase dita por Fernanda Torres, citando a mãe (Fernanda Montenegro): o mundo sempre esteve pra acabar!
Diante de um cenário como esse, é preciso racionalizar o caos e criar filtros de decisão que funcionem sob a ditadura do MEDO ou da EUFORIA, já que ambos são maus conselheiros.
Nosso papel como profissionais de finanças é fazer uma escuta empática, acolher medos e entender esse contexto mais amplo em que todos estamos inseridos para ler comportamentos financeiros disfuncionais dos clientes que estão impactando decisões presentes e metas futuras.
Nem sempre falar sobre finanças envolve falar sobre números.
Muitas vezes, uma sessão de planejamento financeiro é melhor aproveitada quando falamos sobre contexto, ambiente, hábitos e crenças, já que essas são as verdadeiras raízes de todos os problemas com dinheiro.
Ao entender o que se passa na mente das pessoas temos mais chances dar boas orientações de como agir.
O medo tem um impacto profundo nas decisões financeiras ao ativar respostas emocionais que podem sobrepor-se à lógica. Aqui estão os principais efeitos:
1. Aversão ao Risco e à Perda
O medo aumenta a sensibilidade à possibilidade de perdas, fazendo com que as pessoas evitem opções incertas, mesmo quando há potencial de ganho.
Exemplo: Sacar dinheiro de um fundo de investimento durante uma queda do mercado ou diante de uma notícia ruim, mesmo com perdas ou penalidades.
2. Foco no Curto Prazo
O medo ativa uma resposta imediata (tipo “luta ou fuga”), levando à ação impulsiva e à negligência de planos financeiros de longo prazo.
Exemplo: Evitar investimentos de qualquer natureza por insegurança, mesmo que isso prejudique ou retarde planos pessoais e profissionais futuros
3. Paralisia Cognitiva
Algumas pessoas ficam paralisadas pelo medo e incerteza, evitando tomar decisões financeiras
Exemplo: olhar faturas, evitar contratar serviços mais caros e duradouros, postergar gastos com aperfeiçoamentos profissionais
4. Conservadorismo Excessivo
O medo pode levar a decisões extremamente conservadoras, limitando oportunidades de crescimento financeiro.
Exemplo: Guardar dinheiro só na poupança por medo de investir, deixar de investir na própria educação por não ter perspectivas futuras otimistas
Quando estamos falando de finanças pessoais, o melhor inimigo do medo e da ansiedade financeira é a reserva de emergência e o planejamento pessimista.
Saber que você dá conta de lidar com imprevistos pode ser um excelente remédio para irracionalidade de curto prazo!
Se esse básico foi bem feito: aproveite a máxima é na crise que se criam as melhroes oportunidades, seja de crescimento, investimento ou mudança de hábitos.
Até a próxima!
Carol
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Te vejo na próxima turma?