Stress Financeiro
como estar estressado diminui a nossa capacidade de decidir sobre dinheiro
Hoje vou usar um ensinamento de Tim Maia pra abrir essa newsletter: “paixão antiga sempre mexe com a gente é tão difícil esquecer...basta um encontro por acaso e pronto, começa tudo outra vez”...
Eu podia falar das minhas paixonites de adolescência? Podia. Mas essa neuro.letter é sobre hábitos antigos - e tóxicos.
Esta semana estava lendo sobre como o estresse encoraja nosso cérebro a voltar a hábitos antigos.
Isso acontece porque nosso cérebro está sempre buscando meios de economizar energia e o uso de hábitos antigos demanda menor esforço cognitivo (usamos nosso Sistema 1 de tomada de decisão).
Basicamente o estresse drena sua motivação e autocontrole, que são essenciais quando estamos criando novos hábitos. Criar uma nova rotina financeira, por exemplo: demanda uma postura ativa e consciente e, portanto, maior esforço cognitivo.
Então, se você está tentando criar um novo hábito financeiro (ou está ajudando alguém com isso), mas não está saindo lugar: o obstáculo pode ser a vida estressante e não a falta de capacidade de entender sobre investimentos ou como preencher uma planilha.
Por isso é importante pesquisar a “raiz do problema”: você só consegue receitar o remédio certo quando sabe qual é a doença do paciente, certo?!
Qual o desafio?
Muitos começam a lidar com as finanças pessoais justamente quando estão estressados com a própria situação financeira. Outra situação comum é quando você aprendeu a lidar com seu estresse comprando (e ao repetir esse comportamento basta que o estímulo esteja presente - stress - para que o looping do hábito aconteça - compras).
Essas pessoas estão em uma espiral de decisões difíceis e de preocupações constantes, o que leva a :
diminui a cognição para buscar soluções
foco no curto prazo
decisões mais impulsivas
Existem 4 eixos da vulnerabilidade financeira, que são situações que colocam pessoas em situação de maior vulnerabilidade, diminuindo sua capacidade de tomar boas decisões financeiras. São elas:
Baixa Resiliência: não conseguir lidar com impactos financeiros causados por fatos da vida (desemprego, separação, por ex.)
Baixa Capacidade: ter pouco conhecimento e habilidades para lidar com as finanças
Questões de saúde: doenças crônicas, saúde mental e física
Eventos da Vida: separação, desemprego, morte de familiar, aposentadoria, filhos, ser cuidador de alguém, experiências ruins com dinheiro (o que moldam as crenças financeiras)
A vida é feita de diversas dessas situações e elas impactam a nossa forma de decidir e usar nosso dinheiro.
Qual a solução?
Pessoas estressadas e com problemas financeiros deveriam focar primeiro em incluir na rotina: mais interação social, atividade física, meditação e novas experiências (ao invés de aprender a diferença entre um CDB e uma LCA!!).
Além disso, poderiam se beneficiar do uso de estratégias comportamentais.
Uma dessas estratégias é técnica do temptation bundling (ou empacotamento) pode ser uma boa estratégia: associar à nova habilidade financeira algo que já é da rotina da pessoa e que já lhe dá prazer de fazer (investir na sexta depois de um almoço agradável, por exemplo).
Qual a boa notícia?
Uma vez que você tenha hábitos financeiros bem formados, mesmo sob estresse você tende a executar esses hábitos, pois esses já terão se tornado respostas automáticas do cérebro!
É claro que diante dos estímulos “certos”, você pode ceder aos hábitos antigos. Isso é muito claro quando falamos de pessoas em reabilitação de vícios, como álcool e outras drogas. Ou seja: diante do estímulo (que pode ser desde uma garrafa de bebida, até ambientes físicos ou sociais), a chance de recaída é grande.
O mesmo acontece com o uso do dinheiro. Quando temos hábitos de comprar por impulso em promoções ou comprar para aliviar o stress, basta que estejamos diante dos estímulos “promoção“ e “stress“ para comprar.
Mas recaídas fazem parte do processo. É preciso entender que voltar a hábitos ruins não invalida todo o progresso em se organizar financeiramente.
É importante dar mais saliência para o progresso e fazer o exercício que chamo de linha da vitória: listar todas as coisas boas/corretas que você já fez ao longo da sua trajetória com o dinheiro e a partir desse enquadramento experimentar uma motivação em voltar para o trilho!
Claro que a motivação só persiste quando poupar, investir e postergar desejos do presente são percebidos como de alto valor (se essas tarefas exigirem pouco esforço, o cérebro gosta ainda mais).
Acho que ficou claro que finanças não é sobre números, mas sobre comportamento.
Até a próxima neuro.letter!
Carol Velloso
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